A experiência piloto de uma Clínica Pública de Psicanálise no galpão do projeto Vila Itororó Canteiro Aberto, com atendimentos individuais gratuitos, pretende ampliar, para além das práticas artísticas, a noção de cultura e o que se espera de um centro cultural. A proposição partiu da artista Graziela Kunsch, responsável pela formação de público da Vila Itororó, junto aos psicanalistas Daniel Guimarães e Tales Ab’Sáber(*). Trata-se de mais um experimento no canteiro de obras (que vem se somando a outros experimentos) com o intuito de abrir novas perspectivas para o futuro da Vila.
A clínica surgiu de uma reflexão acerca das transformações radicais – internas e externas – pelas quais a Vila passou ao longo da sua história, tendo sofrido diversas violências: violências do planejamento urbano com a canalização do rio Itororó e a construção da Avenida 23 de Maio; violências das políticas habitacionais com a retirada dos então moradores; violência do mercado imobiliário com a expulsão econômica das populações mais pobres que habitam o bairro. Se o projeto surgiu de um anseio de atender ex-moradoras e ex-moradores da Vila Itororó, a criação de horários de plantão visa ampliar os atendimentos a demais interessados. Quem tiver interesse em ser atendido na clínica só precisa comparecer no canteiro/galpão nas manhãs de sábado. Serão atendidas até quatro pessoas em cada plantão, por ordem de chegada, com a possibilidade de agendamento de retornos.
O grupo da clínica hoje é formado pelos psicanalistas Ana Carolina Santos, Camila Bassi, Camila Kfouri, Dafne Melo, Daniel Guimarães, Daniel Modós, Flávio Bacellar, Fernando Pena, Frederico Tell Ventura e pela artista Graziela Kunsch. A supervisão dos trabalhos é feita por Heidi Tabacof e Mauricio Porto (última atualização de nomes atuais da equipe em março de 2018). Nos primeiros seis meses de existência da clínica, o grupo de atendimentos foi formado por Anne Egídio, Carolina Binatti, Daniel Guimarães, Fabricio Brasiliense, Patricia Gertel Nogueira, Ricardo Cavalcante e Tales Ab’Sáber, este último como supervisor. No segundo ano as supervisoras foram Heidi Tabacof e Maria Silvia Bolguese. As psicanalistas e os psicanalistas trabalham no projeto por um desejo político e como parte de sua formação, recebendo uma ajuda de custo no valor de um bilhete mensal de transporte. Com a ampliação do projeto, pode-se imaginar esse experimento funcionando, num futuro próximo, em uma das casas da Vila Itororó.
Benjamin Seroussi, curador da Vila Itororó Canteiro Aberto
(*)Este último não se encontra mais no projeto, por diferenças metodológicas e políticas que surgiram ao longo dos primeiros meses de existência da clínica.
Desde julho de 2016
Leia mais sobre a clínica:
O direito à cidade psíquica: a Clínica Pública de Psicanálise, ou a psicanálise como canteiro aberto, por Daniel Guimarães
Textos do início do processo:
Psicanálise, espaço público e vida popular, por Tales Ab’Sáber
Uma clínica pública de psicanálise, por Daniel Guimarães
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Imagem: vista desde o divã da Clínica Pública. O divã foi construído coletivamente pelo grupo de psicanalistas na marcenaria do canteiro, com auxílio dos técnicos do coletivo GAMB, também responsáveis pelas paredes móveis e dobráveis do espaço, em colaboração com Graziela Kunsch. A pintura à direita é parte da obra em exposição permanente “Padrões da Vila”, de Mônica Nador.