Esboço para novas culturas: projetos de cidades em debate foi a primeira atividade do projeto editorial da revista Urbânia 4. Muitas cidades crescem e se transformam sem que alguém tenha pensado em seu projeto, no entanto, diversas foram as oportunidades em que indivíduos e coletivos se debruçaram sobre a possibilidade de projetar novas cidades, modelos de espaço urbano comprometidos com modelos sociais e culturais. Ao reunir (e confrontar) esses projetos, a revista Urbânia 4 se propõe a investigar onde se localizam as utopias hoje, de modo a estimular a construção coletiva de outros imaginários. Objetiva-se animar uma reflexão sobre o que as cidades em que vivemos poderiam ter sido e, fundamentalmente, sobre o que ainda podem se tornar.

A cada edição a revista Urbânia tem um formato diferente e neste quarto número ela assume a forma de um website, instaurando um processo colaborativo de publicação e reforçando uma lógica de projeto, como as cidades estudadas – passíveis de constante reformulação. O banco de dados do website urbania4.org é organizado em três seções, tomando emprestada a estrutura do manuscrito de Constant Nieuwenhuijs, New Babylon – Esboço para uma cultura, 1963-65, que apresentava o projeto da cidade New Babylon de três modos: “modelo de sociedade e cidade” (textos), “atlas” (imagens – maquetes, desenhos) e  “crítica cultural radical” (a contraposição do modelo vigente de cultura com a cultura imaginada por Constant).

As cidades Brasília, Havana, São Paulo, Luanda, New Babylon e Assentamento Ireno Alves dos Santos/Vila Barrageira foram eleitas como assunto dos debates presenciais. Para cada uma dessas discussões os editores da revista Urbânia 4 – Graziela Kunsch e Paulo Miyada, também curadores deste projeto – escolheram um ou mais debatedores e um editor/coletivo editorial de uma revista independente de arte e arquitetura. Este editor/coletivo editorial irá atuar na referida discussão como mediador e, em alguns casos, propôs um novo debatedor para a situação, a partir do repertório de colaboradores de sua própria revista e/ou tendo em mente um embate crítico. Esta dinâmica objetivou descentralizar e democratizar o processo de escolha dos participantes das discussões, tornando possível que os debates tomem rumos inesperados/inimaginados até mesmo pelos curadores e valorizando o papel das revistas independentes na formação de uma crítica cultural radical. Como forma de adensamento dos debates presenciais estão programadas oficinas e uma série de atividades especiais.

Este projeto foi contemplado na seleção pública de debates presenciais do Programa Cultura e Pensamento 2009/2010, do Ministério da Cultura. A pesquisa para a revista Urbânia 4 foi desenvolvida com bolsa do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco (Fundarpe).

Programação completa
debates

21 de outubro, quinta, às 19h
ABERTURA
Introdução ao conjunto de debates e ao projeto editorial colaborativo da revista Urbânia 4.
com Graziela Kunsch

21 de outubro, quinta, às 19h30
BRASÍLIA
Reflexão sobre o projeto moderno brasileiro 50 anos após a construção de Brasília e tentativa de atualizar a aposta de Mario Pedrosa  – podemos ainda hoje pensar em Brasília ou no ato de planificação como uma “aspiração à síntese das artes”?
debatedores Milton Braga, Martino Tattara e Rubens Mano
mediador Paulo Miyada, pela revista Urbânia 4

22 de outubro, sexta, às 19h30
HAVANA
Problematização do projeto socialista cubano e apontamentos para um outro projeto socialista, que no entanto aproveite boas experiências de Havana.
debatedor Henry Eric Hernandez
mediadora Beatriz Tone, pela revista Contraespaço/Usina

23 de outubro, sábado, às 11h
SÃO PAULO – parte 1
Diante de uma metrópole de imensas proporções, o desenho de redes e sistemas é uma estratégia possível para a reinvenção da cidade como uma unidade. Os equipamentos urbanos poderiam ser organizados como um desses sistemas? As escolas e os espaços públicos poderiam ser as unidades geradoras de uma nova São Paulo? A idéia desta discussão é retomar o projeto original dos CEUs –originalmente “Conjuntos de Equipamentos Urbanos”, reduzidos a “Centros Educacionais Unificados”. Toda a formulação deste projeto pressupôs a lógica de um sistema urbano, uma rede que aproximaria contextos distintos e lidaria diretamente com regiões de urbanização precária, onde a falta de equipamentos públicos é apenas uma dentre muitas questões sociais.
debatedor Alexandre Delijaicov
mediador Adriano Carneiro de Mendonça, pela revista Noz

23 de outubro, sábado, às 13h40
Almoço coletivo no jardim do Centro Cultural São Paulo

23 de outubro, sábado, às 15h
SÃO PAULO – parte 2
No momento em que a expansão do metrô de São Paulo – restrita principalmente aos bairros de classe média – e o Rodoanel são usados como principais bandeiras políticas do governo do Estado, a recuperação do projeto Tarifa Zero para o transporte coletivo desta cidade e a proliferação de bicicletas e ciclofaixas desenhadas pelos próprios ciclistas pelas ruas aponta caminhos mais radicais e revolucionários para superação da “sociedade do automóvel”.
debatedores Lucio Gregori e Thiago Benicchio
mediadora Renata Marquez, pela revista PISEAGRAMA

23 de outubro, sábado, às 17h40
Café coletivo embaixo da marquise entre a calçada da Rua Vergueiro e a Sala de Debates

23 de outubro, sábado, às 18h
LUANDA
Projeto de reconstrução e crescimento acelerado de uma cidade enriquecida após 27 anos de guerra civil. Enquanto Angola se consolida como uma das economias que mais rapidamente cresce no mundo, sua capital transforma sua paisagem com intervenções grandiosas que abrangem habitação social, centros culturais, obras de infraestrutura e aeroportos.
debatedores Nilton Vargas e Leila Leite Hernandez
mediador Pedro Gadanho, editor da série de livros Beyond

30 de outubro, sábado, às 15h
NEW BABYLON
Mais que um projeto de cidade, a New Babylon é o projeto de um novo homem, que iria “transformar e recriar o meio natural segundo as suas novas necessidades. Em vez de ficar passivo diante de um mundo que não o satisfaz, ele vai criar um outro, onde poderá ser livre. Para poder criar a sua vida, precisa criar esse mundo. E essa criação, como a outra, são parte de uma mesma sucessão ininterrupta de criações. New Babylon só poderá ser obra dos seus habitantes, unicamente produto de sua cultura. Para nós, ela só é um modelo de reflexão e jogo” (Constant).
debatedores Martin van Schaik e Tom McDonough
mediadora Graziela Kunsch, pela revista Urbânia 4
O debate será precedido pela projeção do filme New Babylon de Constant, de Victor Nieuwenhuijs e Maartje Seyferth

30 de outubro, sábado, às 17h40
Café coletivo embaixo da marquise entre a calçada da Rua Vergueiro e a Sala de debates

30 de outubro, sábado, às 18h
ASSENTAMENTO IRENO ALVES DOS SANTOS/VILA BARRAGEIRA
Projeto de cidade imaginada e construída coletivamente dentro do primeiro grande assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e as forças contrárias a este projeto. A questão da autogestão na produção das casas do assentamento levando à produção de uma cidade autogerida.
debatedores Pedro Fiori Arantes, Elemar Cezimbra/MST e Gabriel Kogan
mediador Ariel Jacubovich, pela revista UR

OFICINAS
Participantes escolhidos por meio de seleção pública

A CIDADE COMO UM PROJETO
com Pier Vittorio Aureli e Martino Tattara
Nesta oficina o termo “cidade” não será definido como um mero fluxo de massas e programas, mas como uma forma política. Se a essência da ação política é a tentativa de projetar uma forma de convivência entre os indivíduos, pode-se dizer que a forma arquitetônica, inevitavelmente, implica uma visão política. Mesmo que não exista uma “arquitetura política”, há certamente uma maneira política de se fazer e ler a arquitetura.
19/10 a 22/10, 11h às 13h e 14h às 17h30, no Centro Cultural São Paulo

INTERNACIONAL SITUACIONISTA
com Tom McDonough
A proposta desta oficina é abordar o engajamento do grupo Internacional Situacionista (IS) com a arquitetura e o urbanismo, a partir da análise da uma série de revoltas e insurreições urbanas contemporâneas.
27 e 28/10, 14h às 17h30, no Centro Cultural São Paulo

OTRA ISLA PARA MIGUEL
com Henry Erik Hernandez
Em seu livro La Revancha (2006) e no livro seguinte, Otra Isla para Miguel (2008), o artista cubano Henry Erik assumiu uma posição discursiva sobre a história de seu país e as mudanças da forma e da função de suas cidades e edifícios. Descontente com o discurso único enunciado pela história oficial – seja aquela produzida e ensinada em seu país, seja aquela moldada desde fora do regime cubano – ele concebeu intervenções e narrativas que desvelam versões e visões alternativas, baseadas nas memórias de pessoas desconhecidas e em documentos do passado recente. Essa modalidade de atuação artística, colada nas grandes narrativas da história, mas apegada à escala humana e local, desdobra visões originais e críticas radicais sobre um projeto de cidade e sociedade cujo saldo ainda está por ser avaliado. Nesta oficina serão analisados o uso e a utilidade de documentos relacionados a eventos pessoais e experiências de vida na  elaboração de uma parcela da micro-história.
25 e 26/10, das 14h às 17h30, no Centro Cultural da Espanha

CIUDAD ROCA NEGRA
com Ariel Jacubovich
O Proyecto Roca Negra [http://proyectorocanegra.wordpress.com] é um projeto de transformação territorial, construção de espaços coletivos e equipamento comunitário empreendido pelo MTD Lanús e a Frente Popular Dario Santillán nos prédios de uma antiga fábrica, localizada na Grande Buenos Aires. Nesta oficina pretende-se investigar, por meio deste projeto, os recursos da arquitetura como uma ferramenta para a construção de melhores sistemas democráticos: assembléia do projeto, objetos de consenso, agrupamentos socio-técnicos.
2 e 3/11, das 14h às 17h30, no Centro Cultural da Espanha

ATIVIDADES ESPECIAIS NA 29ª BIENAL
Bienal de São Paulo, terreiro Eu sou a rua [Parque do Ibirapuera, portão 3, segundo andar]

18 de outubro, segunda, às 16h
A cidade como um projeto
Aula aberta com Pier Vittorio Aureli e Martino Tattara

24 de outubro, domingo, às 17h
Entrevista pública com Henry Erik Hernandez

28 de outubro, quinta, às 20h
História do futuro
Palestra de Milton Machado
O artista carioca, formado em arquitetura, apresenta trabalho em progresso iniciado em 1978 com uma série de desenhos e um texto descritivo. Revelou um sistema imaginário absoluto e hipercoerente, em que se articulam Mundo Imperfeito, Mundo Perfeito e Mundo Mais-que-Perfeito. Essa civilização mítica é habitada por personagens conceituais, como o Módulo de Destruição, uma máquina definitiva que faz e desfaz cidades; e o Nômade, minúscula esfera que luta contra as probabilidades para sobreviver em Cidades-Mais-que-Perfeitas. Iniciado como um projeto entre a utopia e a distopia, História do futuro foi-se transvestindo ao longo do tempo em literatura, filosofia, geometria e patafísica, a ciência do absurdo.

29 de outubro, sexta, às 20h
Megaestrutura revisitada
Palestra de Markus Richter
O curador alemão falará sobre uma mudança crucial nos projetos das vanguardas arquitetônicas entre 1965 e 1967: o abandono do aspecto estrutural em megaestruturas e o foco na elaboração de unidades menores, monádicas. Sob esse prisma, Markus analisará projetos que se desenvolvem a partir da referida transformação, como o Monumento Contínuo (Archigram, 1969) e a No-Stop City (Archizoom, 1969). Por fim, irá discutir o recente interesse de artistas visuais na vanguarda arquitetônica dos anos 60.

31 de outubro, domingo, às 17h
Entrevista pública com Tom McDonough

1º de novembro, segunda, às 17h
Entrevista pública com Martin van Schaik


FILMES
Bienal de São Paulo, terreiro A pele do invisível [Parque do Ibirapuera, portão 3, terceiro andar]

Projeções dos filmes Brasília, contradições de uma cidade nova e New Babylon de Constant dentro do Programa 1 nas datas: 11/10 10h15 e 15h + 21/10 9h15, 14h e 18h + 10/11 10h15 e 15h + 20/11 13h + 30/11 10h15 e 15h + 10/12 9h15, 14h e 18h

Brasília, contradições de uma cidade nova
Joaquim Pedro Andrade, 1967, 30min
Imagens de Brasília em seu sexto ano e entrevistas com diferentes categorias de habitantes da capital. Uma pergunta estrutura o documentário: uma cidade inteiramente planejada, criada em nome do desenvolvimento nacional e da democratização da sociedade, poderia reproduzir as desigualdades e a opressão existentes em outras regiões do país?
Apoio: http://filmesdoserro.com.br

New Babylon de Constant
Victor Nieuwenhuijs e Maartje Seyferth, 2005, 13min
O filme exibe imagens de arquivo do artista holandês Constant Nieuwenhuijs (1920-2005) apresentando o projeto da cidade New Babylon, onde o “homo faber”, que deve trabalhar para ganhar a vida, é subtituído pelo “homo ludens”, que dedica seu tempo ao lazer e à criação. Os trechos de arquivo são articulados com tomadas das maquetes construídas por Constant.