Imagem: ilustração do canto do “Papa-mel”, que traz desenhos e nomes
de 33 espécies de abelhas nativas, por Donizete Maxakali (2009). A
maioria dessas abelhas foi extinta, sendo apenas preservadas na
memória e no canto/na língua maxakali/tikmũ’ũn. Imagem publicada
originalmente no livro “Cantos Tikmũ’ũn para abrir o mundo”,
organizado por Rosângela Pereira de Tugny (Editora UFMG) e na revista
Urbânia 5.


mulheres dos coletivos Equipe de Base Warmis, Rede de Mulheres Imigrantes Lésbicas e Bissexuais (MILBI) e Coletivo Feminista de Argentinxs em São Paulo com o livro-cartaz realizado em oficina com o coletivo Dulcineia Catadora na marcha de 8 de março de 2019

Encontro de línguas latinas para além do português e do espanhol

Na exposição Cartoneras: releituras latino-americanas, que reuniu 300 livros de diferentes editoras “cartoneras” (ou “catadoras”) da América Latina, chamava atenção um único livro escrito em línguas guarani, da editora paraguaia Yiyi Jambo, em meio a uma maioria de livros em castelhano e português. A partir desse livro e como uma das formas de resistência à intensificação dos ataques a terras, povos e culturas indígenas no contexto brasileiro atual, foram realizados encontros com pessoas residentes em São Paulo falantes de línguas indígenas da América do Sul como Aymara, Guarani, Jopara e Quechua, e também com os Pankararu, cujas dificuldades de sobrevivência desde a colonização comprometeram também a sobrevivência de sua língua ancestral.

Ao longo dos encontros cada participante compartilhou a história de sua língua e disse oralmente um texto, ou canto, ou palavra. Na sequência, essas contribuições foram reunidas em uma publicação cartonera – um livro feito e costurado de maneira manual/artesanal, usando papelão reciclado pintado como capa -, que não terá traduções para as línguas locais colonizadoras.

Esta atividade encerrou o conjunto de ações educativas da mostra, que teve os imigrantes colombianos Maria Paula Botero (psicóloga) e David Rubio (narrador de história oral) como responsáveis pela mediação e também contou com uma editora temporária, onde coletivos e indivíduos produziram livros da forma cartonera (esta editora se tornou a SINFRONTERA Cartonera, tocada por Maria Paula e David para além da duração da exposição); oficina do coletivo Dulcineia Catadora com mulheres organizadas na Equipe de Base Warmis, na Rede de Mulheres Imigrantes Lésbicas e Bissexuais (MILBI) e no Coletivo Feminista de Argentinxs em São Paulo, que resultou em uma publicação distribuída na marcha de mulheres de 8 de março; e atividades com crianças em escolas (ou “visitas ao contrário”).

A frase-título deste evento de encerramento – ‘Iy mũn ku mãk pax – foi extraída de um canto xamânico maxakali/tikmũ’ũn e significa “minha voz bonita”.


Data: 6 e 9 de fevereiro de 2019
Local: exposição Cartoneras: releituras latinoamericanas, acolhida no térreo da Casa do Povo

Participantes:
Beatriz Morales Barroso (Quechua)
Clarice Josivania da Silva (Pankararu)
Eunice Augusto Martim Sheley (Guarani)
Eunice Jera Poty (Guarani)
Joab Kara’i (Guarani)
Juan Cusicanki (Aymara)
Poty Poran Turiba Carlos (Guarani)
Maria Lídia da Silva (Pankararu)

Curadoria educativa: Graziela Kunsch
Educadoras: Maria Paula Botero e Juan David Segura Rubio
Curadoria da exposição: Alex Flynn e Beatriz Lemos
Produção: J. Pombo