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Pornô (2003-2004, em parceria com Stewart Home) é um excerto de A.N.T.I. cinema que dura 21 minutos.
Foi mostrado a público uma única vez, no formato VHS, em uma TV pequena, com fone de ouvido e dois aparelhos de vídeo-cassete, na minha exposição individual Um espaço para a contracultura inglesa, no 8º Cultura Inglesa Festival/Centro Brasileiro Britânico, São Paulo, 2004.
O primeiro espectador foi instruído a fazer uma cópia VHS do vídeo, no próprio espaço expositivo. O segundo espectador assistia a esta cópia e gerava uma nova cópia. O terceiro fazia uma cópia da cópia da cópia. Cada espectador fazia uma cópia do vídeo a partir da cópia que recebera, até que um espectador considerasse inútil seguir adiante. Foram feitas 14 cópias. Após esse processo, o trabalho foi apresentado em 14 monitores de TV ao mesmo tempo (monitores de tamanhos diferentes, emprestados de amigos) e recebeu uma análise crítica pública de Rubens Machado Jr.. Foi feito também um Controle de degeneração de filme pornô, do qual transcrevo alguns comentários:
Cópia nº 1
Responsável pela cópia: Tiago Judas
Comentários sobre o filme: “O que me agrada é sentir o ponto em que um vídeo que documenta algo se dissolve em uma possível ficção. O prazer de ver uma pesquisa visual se misturar por completo com a vida real. O mesmo se reflete na liberdade de enquadramento, que por vezes fica entregue ao acidente, por vezes entregue a um desleixo proposital e charmoso”.
Cópia nº 2
Responsável pela cópia: Mathias Fingermann
Comentários sobre o filme: “Uma pequena lembrança, algo que vai se afastando de repente vem à minha cabeça um ruído, um chiado… isso é ficção ou realidade… é uma imagem que vai se apagando… todos tímidos num filme pornô caseiro com uma câmera bem ruim… a ficção é viver o que não fazemos na vida real… preciso descobrir minha ficção”.
Cópia nº 3
Responsável pela cópia: Lourival Batista
Comentários sobre o filme: “É bom que parece que vai acontecer algo e não acontece nada. Foi legal ver tuas pernas. Ele tem uma cara de nerd, mas é bem desenrolado: ‘Eu nem sempre sei quem sou’. Vocês treparam depois? E Micah era teu namorado? Acho que ele te queria sem banho mesmo. Ela mente para ele, já estava filmando. O ritmo parece de filme de leste europeu, mas isto dá uma certa credibilidade ao filme ficção/realidade estranha”.
Cópia nº 5
Responsável pela cópia: Rudi
Comentários sobre o filme: “Idéias sem possibilidade de ordenação ou hierarquia: ‘– Não sei o que você quer. Você deveria dizer’. Oitava série, laboratório de química entre outras coisas, inevitável lembrar da grazi como minha antiga paixão platônica. Tentativa de colocar sempre o eu na terceira pessoa: grazi tenta editar a própria vida. Salvação pelo mal entendido, não induzido mas sempre desejado. E daí? A idéia de mobilidade absoluta (trocas de posição social, trocas de papéis, trocas de lugar, sem nunca se desprender da origem) como ideologia possível da classe média. A vida real só se vive com distanciamento, imanência da vida como vida é insuportável, é preciso estetizá-la e torná-la arte, pois viver arte é mais fácil. Não consigo gostar, mas é inevitável que existe alguma força aí, embora pareça sempre gerada por apropriação indébita, algo próximo do truque. Ficção-realidade, vida-arte: crítica acaba resvalando na crítica pessoal”.
Cópia nº 8
Responsável pela cópia: Paula Azevedo
Comentários sobre o filme: “Na minha vez, a imagem já está bastante deteriorada (verde) e as legendas se confundem. O filme é o verdadeiro pornô, pois me excita pela respiração e veracidade dos sentimentos. Demonstra intimidade”.
Cópia nº 9
Responsável pela cópia: Juliana Monachesi
Comentários sobre o filme: “É como Nightshot 1, mas com o compartilhamento daquela condição trágica. A degeneração da fita torna mais real o encontro impossível”.
Cópia nº 10
Responsável pela cópia: Rhatto
Comentários sobre o filme: “É isso aí! Faça-você-mesmo e não sustente o cine-privé”.
Cópia nº 12
Responsável pela cópia: Zé Carlos
Comentários sobre o filme: “Você é real”?
Cópia nº 14
Responsável pela cópia: Sérgio Fingermann, que decidiu por não gerar nova cópia
Comentários sobre o filme: “O esquecimento, o apagamento, a incompreensão aparecem através da ironia e poesia, evocados, evidenciados como a matéria prima do fazer linguagem artística”.