Quando há separação entre palco e plateia eu gosto de me sentar o mais perto possível do palco, para me sentir mais dentro do acontecimento cênico. Ontem eu me sentei na última fileira do teatro da Funarte São Paulo ocupada e mesmo assim fui totalmente envolvida pelo show da Ava (e de tantos outros/outras que a acompanhavam; no cartaz não havia separação entre todos os nomes anunciados e no palco também não). Este registro em vídeo da primeira música não faz jus ao show, que eu escolhi viver e não filmar (ainda que, normalmente, essas duas coisas sejam indissociáveis para mim). É uma câmera pequenina e parada, lá de longe, com certeza muito diferente das imagens que foram feitas de dentro do palco e que devem estar circulando ou ainda devem circular. O som é irregular e incorpora a conversa de quem estava sentado perto de mim. Mas o vídeo respeita a duração (a música se fazendo, sem cortes) e é mais um documento desse show histórico, da nossa resistência diante dos retrocessos nas coisas públicas. Não estou participando do cotidiano da ocupação e confesso que nada ali me pareceu muito real quando cheguei, após ter feito uma conversa com secundaristas de luta na tarde do mesmo domingo. Mas o show foi bem real e desde o início ancorado na ancestralidade de mulheres e homens Avá-canoeiros, Yanomami, Tukano, Xavante e Kaigang, entre outros, como se poderá ver nesse excerto de 8’40’’.
música: Canoa, Canoa (Fernando Brant e Nelson Ângelo)
com: Ava Rocha Negro Leo Bruno Schiavo Lukash Chicão Marcela Lucatelli Iara Rennó Felipe Zenícola Carlos Issa Márcio Gibson Gabriel Ballesté Mariana de Moraes Juliana Perdigão Alan Rodrigues Athayde (…)
Ocupa Funarte, 29 de maio de 2016