Eu tentei ficar no hall do Cinesesc após a exibição do filme A vizinhança do tigre (Affonso Uchoa, 2013). Mas não deu. Eu precisava sair daquele espaço correndo. Era dia de abertura de mostra e nós, espectadores, éramos servidos a todo momento. Champagne, castanhas e queijo brie com uvas verdes, ou algo parecido com isso. O rap Eu queria mudar, trilha dos créditos finais do filme, ainda estava na minha cabeça.
Eu não conseguia falar e não tinha vontade de falar. No banheiro cruzei pessoas conhecidas e elas perguntaram se eu estava passando mal, pois eu não respondia seus comentários sobre o filme. Acho que eu estava mesmo passando mal. Só lembro de ter ficado assim após ver O prisioneiro da grade de ferro (2003), de Paulo Sacramento, que por acaso viu o filme de ontem a poucos metros de mim. Outros filmes já mexeram comigo e me deixaram sem vontade de conversar, mas em A vizinhança do tigre e O prisioneiro da grade de ferro meu emudecimento foi de outra ordem. Eu me envolvi por seus personagens, torci – e torço – por eles, mas não tenho nenhuma resposta individual a dar que possa tirá-los de suas condições.
Um filme se passa em um bairro periférico de Contagem, Minas Gerais – curiosamente chamado “Nacional” (poderia ser qualquer outra quebrada no Brasil) – e o outro dentro do complexo penitenciário Carandiru, meses antes da sua demolição. Nos dois casos não parece haver saída. Mesmo que os meninos de A vizinhança do tigre estejam soltos e que a sua condição seja muito melhor do que seria em uma cadeia, não parece haver esperança de mudança. (mais…)