Hoje abre a exposição Aparelhamento, da qual participo com esse cartaz escolhido da série “Pela democracia mesmo”, que será leiloado para colecionadores de arte no sábado. (A obra foi pensada mais para o leilão que para a exposição).
Se a obra for vendida o valor será revertido em ações contra o golpe em curso no Brasil (que eu não chamo exatamente de golpe de Estado, uma vez que o próprio PT votou em uma pessoa favorável ao “impeachment” para presidir a Câmara; mas de um golpe contra a população – aí incluída a classe artística -, principalmente contra as pessoas mais pobres, que terão uma vida ainda mais dura diante de todos os retrocessos que estamos presenciando).
Se nenhum colecionador quiser comprar, a obra será doada para a coleção pública Arte da cidade, do Centro Cultural São Paulo. Isso vale para todas as obras em exposição, com pequenas exceções de artistas que preferiram não participar do leilão ou não doar ao CCSP. É obra/gente pra caramba, ocupando uma das salas da Funarte do chão ao teto.
Não estou envolvida na organização do projeto nem nas correrias todas, mas está bonito ver toda a movimentação coletiva, iniciada pelo Lourival Cuquinha junto a uma turma de artistas. Todas formas de ação e desobediência contra o estado de exceção que estamos vivendo são importantes.
Novo post de Facebook, por ocasião do dia do leilão:
Nunca vendi uma obra de arte, simplesmente porque os meus caminhos na arte foram outros. A minha única obra vendida até hoje foi em 2003, por ocasião da minha participação no leilão “Pratos para a arte”, que o Museu Lasar Segall realizava todos os anos para arrecadar fundos ao museu. Acho que na época um colecionador pagou R$ 400 no prato que eu fiz, que pode ser visto aqui: https://naocaber.org/leilao-pratos-para-a-arte/
Hoje participo de um novo leilão, o #Aparelhamento, na Funarte ocupada. A ideia desse leilão é que colecionadores (e outros) comprem obras doadas por artistas ao projeto e que essa verba seja revertida para ações contra o golpe/contra o estado de exceção e enormes retrocessos que estamos vivendo.
Fiz uma obra específica ao contexto, defendendo uma maior cobrança de impostos dos ricos (entre eles, muitos colecionadores de arte). Para o lance inicial escolhi colocar o valor mais alto da lista de obras: R$ 30.000,00. Antes esse valor foi divulgado como R$ 300,00 e fiquei super feliz em saber que algumas pessoas (artistas) deram lances para o quadrinho e que outras ainda queriam dar novos lances; uma honra mesmo. Mas preciso deixar esse valor alto pelo teor da obra.
Se não chegar a ser vendida, é uma pena, mas ficará como memória dessa movimentação coletiva, na coleção pública de Arte da cidade do CCSP. E não só como memória. Como uma lembrança permanente de que para haver justiça social quem tem mais tem que contribuir na vida coletiva com mais, quem tem menos com menos, e quem não tem nada não contribuir com nada.