Eu possivelmente vi quase todos os shows Encarnado que aconteceram na cidade de São Paulo desde o pré-lançamento do disco, na Casa de Francisca, em 10 de outubro de 2013. Mas ontem foi diferente. Era a segunda vez que eu ia assistir ao show no espaço Serralheria e a primeira experiência lá não tinha sido muito boa; as pessoas conversaram demais, até mesmo num momento que poderia ter sido fortíssimo, quando a luz acabou, no meio da música Ciranda do aborto.

Logo no início, Juçara explicou que esse show pedia concentração. Que quem quisesse conversar poderia ir lá fora, respeitando quem estava ali para viver aquele momento. As pessoas, desta vez, atenderam ao pedido, com pequenas exceções mais para o final. Cada música foi aplaudida longamente, como há muito tempo eu não presenciava. A gente sabia que estava diante de algo precioso e queria demonstrar isso aos músicos.

Mas não foi bem isso que me motivou a escrever. Quando falei que ontem foi diferente, foi porque ontem eu estava diferente. (mais…)

Tem uns errinhos de digitação na entrevista que o Sávio Vilela fez com o Kiko Dinucci. Ao ler a entrevista, o meu olhar de editora não pôde evitar parar para anotar esses detalhes, pensando em mandar para o Sávio de repente corrigir no site dele depois. São detalhes como o “s” que falta na palavra “Guarulho”, ou a grafia correta do sobrenome do Itamar Assumpção, não “Assunção”. Transcrição e edição de falas orais é um troço difícil de fazer, e se a gente fica muito perfeccionista acaba não publicando nada. Mas o que eu ia dizer é que, no meio desses erros de digitação, achei um erro que não é erro. É um ato falho. E nesse pequeno deslize de transcrição, mais precisamente a troca de uma letra “o” pela letra “u”, o Sávio construiu a frase que poderia resumir a entrevista inteira: “Fui uma puta escola de música para mim”, teria dito o Kiko.

Na verdade o Kiko se referia a um clube da CMTC, perto da estação Armênia, como uma escola de música para ele. Esse local onde pessoas se reuniam para jogar futebol de várzea e fazer roda de samba “foi” uma puta escola para ele. Mas não foi apenas obra do acaso que fez o Sávio trocar o “foi” pelo “fui”, ou talvez o próprio Kiko, ao telefone, ter dito “fui” ao invés de “foi”. A entrevista demonstra, a todo momento, que a escola do Kiko – que na educação formal fez até o ensino médio – foi ele mesmo. (mais…)