Em quase todos os testes de atores apresentados em Salve o cinema (1995), Mohsen Makhmalbaf pede que as pessoas chorem “de verdade”, para que veja se sabem interpretar. Ele conta até dez, exigindo que os atores derramem lágrimas neste intervalo de tempo. Uma menina, em um dos primeiros testes, derrama uma lágrima. Mas o diretor-ator quer mais. Ela lhe havia dito que queria participar de seu filme para tentar ir embora do Irã, para poder se casar com o homem que ama. Se o filme fosse para o festival de Cannes, ela imaginou que poderia ir também. E ele pede que ela chore mais. Ela não consegue. Makhmalbaf lhe pergunta repetidas vezes: “É este o tamanho do seu amor”? (mais…)

comentário crítico sobre o filme Close up [Abbas Kiarostami, 1990]

Hossein Sabzian é um aficcionado de cinema e pobre que se apresenta como o cineasta Mohsen Makhmalbaf para a senhora de uma família burguesa, os Ahankhah. Por causa do interesse que um de seus filhos nutre por arte, a senhora Ahankhah acaba o convidando para a sua casa, onde ele segue fazendo se passar por Makhmalbaf e ensaia rodar um filme. Uma vez desmascarado, Sabzian é preso e seu caso vira notícia de jornal. Nesta notícia, o acusado dá um depoimento que deixa Abbas Kiarostami muito impressionado: “Daqui por diante sou um pedaço de carne de um animal sem cabeça e podem fazer comigo o que quiserem”. O cineasta teve a sensação de que Sabzian falava com ele, de que ele era o público ao qual se dirigia, e que tinha de fazer algo com ele[1]. Assim levou sua câmera e equipe até a prisão onde se encontrava Sabzian e ali começou um dos filmes mais singulares da história do cinema. (mais…)

A rampa antimendigo[1] é uma intervenção dissonante na paisagem de São Paulo. Projetada por Andrea Matarazzo, então secretário municipal de Serviços, a primeira rampa foi construída em setembro de 2005 na calçada sob o túnel que liga a Avenida Paulista à Avenida Dr. Arnaldo. Seu projeto e desenvolvimento foram financiados com recursos do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, dentro do Programa de Reabilitação da Área Central[2]. Sendo uma resposta extrema para o problema da falta de moradia e dos despejos sociais em massa, a rampa antimendigo não é e nem é pensada como uma solução, apesar de ser deliberadamente prática: ela expulsa moradores e moradoras de rua para regiões periféricas da cidade.

Feita basicamente de concreto, a rampa é construída de modo a cobrir toda a área entre a calçada e o teto dos túneis/viadutos onde antes moravam pessoas. Sua superfície é bastante inclinada e chapiscada, de maneira que impede que alguém experimente deitar na rampa para dormir. Criticada como arquitetura da exclusão, podemos também entender esta obra da prefeitura como um pesado trabalho crítico de arte; uma obra site-specific[3] de forte ironia simbólica. (mais…)

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